6.18.2012

L'ira di Dio (1968 / Realizador: Alberto Cardone)

Depois de ter assistido a alguns bons filmes do italiano Alberto Garrone - lote de onde destaco “Sette dollari sul rosso” ou “Mille dollari sul nero” - decidi tentar por a mão na restante filmografia western do prolífico realizador. Felizmente a maioria das coisas que viria a descobrir são bastante consoladoras mas como diz o povo não há bela sem senão, também esbarrei em grandes desilusões. Assim pelas piores razões destaco este “L’ira di Dio”

O meu desapontamento com o filme começou infelizmente muito cedo, logo nas cenas iniciais o realizador arrisca fazer uma série de brutas transições entre cenários verdejantes e outros completamente áridos e rochosos. A coisa é feita de uma forma tão brusca que os olhos do espectador não conseguem ficar indiferentes. É sabido que estas despreocupações cénicas eram fruto da época, em que muitas produções de baixo orçamento tiveram de improvisar para conseguir completar as suas películas mas há pormenores como este que poderiam ser resolvidos de forma menos estrambólica. 

Para além deste pormenor, infelizmente também o rumo do filme se entende demasiado cedo. Sem surpresas Cardone entrega-nos mais uma singela história de vingança pessoal, o lugar mais comum destas produções europeias. E nem sequer a tentativa de twist final é conseguida, tal a previsibilidade que foi conferida à narrativa do filme. E é pena porque o elenco do filme é bastante razoável, surgem por aqui uma série de caras bem conhecidas do western-spaghetti de onde se destacam os vilões Fernando Sancho e Wayde Preston.


O papel principal do filme é de Brett Halsey (que aqui ainda assinou com o seu alias Montgomery Ford), ele encarna nesta ocasião um personagem não muito diferente do que interpretou no clássico de Tonino Cervi, “Oggi a me… domani a te”. Tal como a personagem Bill Kiowa também este Mike Barnett carrega um rosto pesaroso e melancólico, acentuado ainda pelas vestes negras, reminiscentes de outro sombrio herói do western-spaghetti, “Django”

Mike Barnett (Brett Halsey) tenciona assentar arraiais com a sua amada Jane. O negócio de compra das terras a David (Angel Del Pozo) está forjado mas ao chegar a casa é surpreendido por um grupo de sete malandros, que lhe matam a mulher e roubam os 10000 dólares destinados ao negócio. Barnett ainda consegue dar troco aos prevaricadores mas acaba sovado e baleado. Os sete homens abandonam então o local do crime, deixando sarcasticamente sete moedas de dólar no sítio onde antes moravam os 10000 dólares.


Sem surpresas começa então a vendetta de Mike Barnett, que parte em busca dos assassinos da sua mulher. Por estranho que se pareça estes haverão de lhe aparecer pelo caminho sem que o nosso vingador de ocasião necessite despender tempo em grandes indagações. Mas ainda mais difícil de explicar é a razão pelo qual os velhacos não reconhecem imediatamente Barnett, dado o seu encontro anterior. Na verdade a quantidade de grosseiras falhas que o filme apresenta é desconcertante.  

Uma das cenas mais estapafúrdias do filme acontece logo após o genérico inicial. Nesta cena um grande zoom é feito sobre a arma de Mike Barnett, enquanto este carrega o seu colt. Este aumento na focagem permite ao espectador observar uma interessante inscrição na arma: Made in Italy. Evitável por um lado, mas divertidíssima por outro. 



A febre do western-spaghetti pariu algum cinema vibrante e inovador, mas também muito filme apatetado e desinteressante, é neste pote que temos de meter “L’ira di Dio”. Mantenho a minha admiração pelo trabalho de Alberto Cardone, a quem reconheço o mérito de ter realizado uma série de westerns decentes sem grandes orçamentos mas este filme foi um tiro no pé!


Mais algumas cenas deste escusável capitulo:
 
 

18 comentários:

  1. Descreveste bem o filme. Realmente, não é nada de especial; uma história de vingança, mais ou menos linear. Também reparei no pormenor do revólver, "Made in Italy". Mas, por alguma razão se disse que Sergio Leone deu início a uma indústria que dava emprego a muita gente. Os armeiros fabricavam estas armas, ao pormenor, réplicas autênticas de Colts, todo o tipo de espingardas, etc. Por um lado, o pormenor é divertido, como referes, mas a autenticidade das réplicas é um pormenor a assinalar. Concordo que é desnecessário. Achei que o realizador perde demasiado tempo com cavalgadas e mais cavalgadas... parece que está a preencher o tempo por lhe faltar enredo.

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    1. Sim parece-me que existe ali uma tentativa de preencher tempo, algo que Fidani fazia a toda a hora e que entendo mas Cardone jogava noutro campeonato pelo que falhas como essas são um crime.

      Os dois filmes que refiro no inicio do texto são muito melhores do que isto e lembro-me também de assistir a "Kidnapping", que recupera parte deste elenco, mas com melhores resultados.

      Agora pior que todos é "Mi chiamavano 'Requiescat'... ma avevano sbagliato" filme em que Cardone tem culpas na função de argumentista. Não sei se alguém viu esse, mas eu achei-o péssimo!

      --
      Pedro Pereira

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  2. Não vi esses, mas ficam desde já anotados. Não tinha reparado no facto de os vilões não o reconhecerem. Acho que só um deles o faz. Realmente estapafúrdio... O Sentenza di Morte, também uma história de vingança nesta linha, é bem mais criativo.

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    1. Oh pá David, esse é um filmaço. Sempre que o revejo sobe na uns pontinhos nas minhas preferências. A estrutura teatral do filme resulta que nem coentros na ameijoa. E depois temos ainda um grande leque de vilões. Ainda é um filme obscuro entre os seguidores do euro-western o que estranho.

      Enfim, espero que não deixes de dar uma nova oportunidade ao signore Cardone só por causa deste erro de percurso.

      --
      Pedro Pereira

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  3. Houve uma altura dos westerns italianos que não interessava se o projeto tinha qualidade ou não. O importante era produzir filmes, independentemente de serem bons ou maus. Este é mais um dos maus...

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  4. Mau, mau é! Mas já vi piores!

    O que me custa são as transições. Só existe uma no fim do filme que está feita de forma lógica e suave! E porque é que sei que é só uma? Porque todas as outras são "violentas" em termos de cor/paisagem claro está. A minha dúvida é: se conseguiram fazer uma acertada, então não poderiam ter feito todas bem?

    Ah outra cena completamente absurda: quando o personagem principal está sozinho no meio do deserto, em apuros, e do nada aparace-lhe ali o amigo do peito :s...Teve mais sorte que os nosso conterrâneos....Cena ridícula!

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  5. Realmente, cara Elsa Reia, essa é outra cena estranha, só justificável pelo facto de os vilões andarem ali perto. Ele poderia estar com eles. Mas essa aparição só torna o enredo (ainda) mais previsível. Tinha de haver alguém por detrás daquilo tudo. Quem? Só havia o amigo...

    Não, Pedro, não desisto do Cardone, até porque o recomendas. O Sentenza di Morte é grande filme, concordo. É obscuro, realmente. E há uma coisa estranha. O protagonista, Robin Clarke, parece um sósia do Steve McQueen. É a cara chapada dele. Na época, namorava com a atriz Ali MacGraw, e (já deves saber isto), o realizador disse para ela se afastar, já que o distraía, etc. Anos depois, Ali MacGraw viria a casar com... Steve McQueen!

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    1. Não sabia desse enleio. Ele há coisas...

      --
      Pedro Pereira

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  6. David, achava mais plausível ele aparecer junto do "amigo" noutra cena qualquer mas em pleno deserto faz que, por um lado se revele de imediato todo o enredo subsequente e por outro sendo ele um traidor e se expor de forma tão óbvia, logo ali no deserto?!...

    Mas como disse, o filme até se vê bem.

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    1. Eu cá prefiro qualquer coisa do Fidani a este tipo de filme. É um filme mal montado, com cenas improváveis e totalmente escusáveis. Mas é como digo, o Alberto Cardone fez bom cinema mesmo sem grandes orçamentos. Aliás de algum modo pode-se dizer que é um dos responsáveis por Sartana, que apareceu originalmente no seu filme "Mille dollari sul nero". Um filme bastante interessante, com Gianni Garko enquanto vilão e a estrela brasileira Anthony Steffen no papel principal. Filme que já foi destacado nos "spaghettis da minha vida" de Felipe M. Guerra (Filmes para doidos). Ele sabe!

      --
      Pedro Pereira

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    2. Sim, Elsa, até se vê bem. Já vi bem pior...

      Desculpem fugir ao tópico, mas alguém me saberá informar se o "I Giorni Della Violenza" vale a pena ou é dos que "fazem mal à saúde"?! Obrigado.

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    3. Para responder a esta preciso conferenciar com o meu pai, sei que ele já o viu, eu ainda não...

      --
      Pedro Pereira

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  7. Para mí un spaghetti muy flojo, de una ingenuidad sonrojante y repetitiva hasta el aburrimiento. De lo peor que he visto dirigido por Alberto Garrone.

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    1. Holla amigo Jesús!

      Si es una peli poco acertada. La segunda visualización me pareció aún peor que en el primero contacto. Quizás por tener conocido mientras eso algunas pelis de Cardone bien mejores que este intento.

      Mañana tenemos duelo ibérico en el Euro 2012. Nuestro fair-play nos obliga desear suerte a los dos países! Que gane lo mejor en campo.

      --
      Pedro Pereira

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  8. Hubiera sido muy bonito una final Portugal-España pero qué se le va a hacer.

    Por lo demás, lo que tú has comentado, que gane el que se lo merezca jugando a un futbol más ofensivo y entretenido.

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  9. Estes spaguetti, la'ira de dio, o longo dia do massacre e 1.000 dólares sul nero, foram emoldurados pelos temas do pistonista Michele Lacerenza.

    Luiz Carvalho.

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  10. Mesmo sendo comentado como um spaghetti regular e com cenas equivocadas considero bom. pelo menos tem um enredo sério, e o Brett Halsey com seu estilo de uma personalidade forte e séria, muito melhor do que aqueles faroestes com George Hilton cheios de besterou e irritantes.

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  11. É. Quando o tema é parvoíce, Hilton têm um punhado de filmes para se gabar...

    --
    Pedro Pereira

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