1.27.2015

Storia di karatè, pugni e fagioli (1973 / Realizador: Tonino Ricci)

O final dos anos setenta o western-spaghetti já esperneava por todo o lado. Os fãs já tinham visto tudo e estavam saturados, outros filões já começavam a ganhar terreno e o western-spaghetti via como forma de sobrevivência a adição de algo novo na velha fórmula. Tonino Ricci (Il dito nella piaga) tal como ou Mario Caiano em “Il mio nome è Shangai Joe” ou Antonio Margheriti em “Là dove non batte il sole” (1974), arriscou um crossover entre o western-spaghetti e o cinema de acção de cunho oriental. Hoje em dia todos nós nos lembramos bem de sucessos como a franquia iniciada em “Shanghai Noon” (2000) - protagonizada por Jackie Chan, Owen Wilson - mas recordaremos que nos setentas o cruzamento entre os dois mundos ainda era algo pouco comum e o cinema de artes-marciais ainda não era muito difundido no resto do mundo. Coisa que mudou com o entrar em cena de Bruce Lee e o «boom» dado pelo mítico “Enter the Dragon”, e claro, com a crescente popularização das produções da Shaw Brothers e afins.


Na história deste “Storia di karatè, pugni e fagioli” apresentam-nos dois assaltantes de fraca astúcia, que a páginas tantas se vêm recrutados para uma missão de resgate da filha do banqueiro local. Quem já viu o bem mais conhecido “Là dove non batte il sole” pode já ter uma ideia de como as coisas se desenrolarão também por aqui, mas neste “Storia di karatè, pugni e fagioli” arrepiou-se caminho pelos meandros do western anedótico, que se tornara entretanto viral pelo génio de Enzo Barboni. Os dois assaltantes são por isso facilmente comparáveis às figuras icónicas de Terence Hill e Bud Spencer, mas infelizmente para o espectador, sem a mesma piada. Ainda que sem o mesmo toque de midas, Ricci consegue manter alguma coerência e ritmo, coibindo-se de ultrapassar as barreiras da parvoíce destrambelhada, de que tantos outros falharam em escapar. Falhou porém na habilidade em filmar cenas de pancadaria com a mesma mestria que a irmandade Shaw nos habituaria, e é isso que arruína o filme. 


Iwao Yoshika que não se fez velho por estas andanças interpreta Moikako Fujibashi, um cozinheiro que Buddy Piccolo (Cris Huerta) salva da forca. Sob divida de gratidão o japonês passa a seguir o gorducho para todo o lado, desferindo - está claro - muita punhada sobre os trastes por detrás do rapto. Mas o nome de topo neste cartaz é o do americano Dean Reed, persona non grata nos Estados Unidos da América devido ás suas fortes crenças politicas, mas um nome sempre rentável nas bilheteiras europeias, russas e da América do Sul. Por estes dias o «filone» estava nas lonas, mas ainda e sempre não faltou trabalho para o seboso Fernando Sancho que veste aqui pela enésima vez o papel de vilão mexicano, um piloto quase automático para o actor espanhol. 


Á data que escrevo estas linhas não existem ainda grandes opções para conferir este título no conforto dos nossos sofás, a única edição DVD conhecida é da chancela da germânica Savoy film, “Fäuste, Bohnen und Karate”, mas a menos que sejam fluentes na língua dos comedores de salsichas terão dificuldades em seguir a acção do filme. Felizmente já rola por aí um fandub com áudio em Inglês. Sejam valentes e procurem-no!


Mais propaganda bafienta usada pelos "nuestros hermanos":


5 comentários:

  1. Esta resenha resume praticamente tudo o que há de importante a dizer. Em 1973 já era praticamente impossível produzir westerns europeus com a mestria com que foram feitos nos anos 60. Esta mistura do western com o kung-fu parecia que ia ser a nova galinha dos ovos de ouro mas tornou-se num fiasco. Para não variar abusava-se das cenas de pancadaria cómica sempre a imitar Hill e Spencer (Chris Huerta era um dos gordos que tentavam imitar o personagem Bambino, à semelhança do que já tinha feito em "Tresette"). Enfim... nada que me chame muito a atenção!
    Última nota: provavelmente a primeira junção entre o ocidente e o oriente num western europeu terá sido "Sol Vermelho" com Charles Bronson, Alain Delon e Toshiro Mifune!

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    1. Mas esse é de outra galáxia! Neste sub-sub-género acho que também vale a pena ver o Là dove non batte il sole, de resto é tudo aparvalhado. Este aqui por acaso esperava que fosse ligeiramente superior porque conheço outros filmes do Tonino Ricci que considero bons. Por exemplo:

      http://filmesdemerda.tumblr.com/post/1082320157/salt-in-the-wound

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  2. Nesta linha de registos eu até achei piada ao "Il mio nome è Shangai Joe" mas é perfeitamente claro que se trata de um filme sem grande chama.

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  3. Ainda ando a ver se ganho forças para ver este:

    http://www.spaghetti-western.net/index.php/Tigre_venuta_dal_fiume_Kwai,_La

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  4. Esse deve valer a pena nem que seja só pelo nome! O absurdo daquele pessoal chegava a um ponto tal que aproveitavam descaradamente os títulos de outros filmes (neste caso o Rio Kwai).

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